domingo, 24 de junho de 2018

Alfabetização e Empowerment Político

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     O texto “Alfabetização e a pedagogia do empowerment político”, de Henry A. Giroux, traz algumas ideias de Gramsci, colocando a função da alfabetização em dois polos: um em favor do empoderamento individual e social, o qual ele chama de empowerment, e o outro em favor da perpetuação das relações de dominação e repressão. Gramsci defende a ideia de que devesse lutar pela alfabetização, a fim de ampliar as possibilidades de vida e liberdades humanas, de modo a permitir que as pessoas participem e compreendam a transformação de sua sociedade.
    A alfabetização é, ou melhor, deveria ser um combate a dominação, mas a forma como é tratada/trabalhada, vem de uma perspectiva funcional, de acordo com os interesses políticos da classe dominante, de modo a continuar reproduzindo e mantendo o modelo de sociedade que conhecemos: classe dominante e classe dominada. De que forma? Educando crianças oriundas da classe trabalhadora com habilidades de leitura e escrita que apenas os tornem funcionais.
    A alfabetização deve fazer parte de um projeto político e de uma prática pedagógica que traga esperança e transformação para os que lutam por um futuro melhor, dando voz e vez àqueles que tem sido marginalizado e silenciado pelas escolas, pelos meios de comunicação de massa, pela indústria cultural e pela cultura televisiva a fim de que exijam a autoria da própria vida.
    Paulo freire muito se preocupou com a educação emancipadora, isto é, educação além da leitura e da escrita e que permita a homens e mulheres compreender e transformar suas experiências pessoais e reconstituir sua relação com a sociedade mais ampla, isto é, linguagem é poder. Conforme o texto, para Paulo Freire, “a alfabetização é parte do processo pelo qual alguém se torna autocrítico a respeito da natureza historicamente construída de sua própria experiência. Ser capaz de nomear a própria experiência é parte do que significa "ler" o mundo e começar a compreender a natureza política dos limites bem como das possibilidades que caracterizam a sociedade mais ampla”.
      A alfabetização é libertadora e transformadora, na linguagem de Paulo Freire. Por isso, deve-se deixar de lado a questão do conteúdo como a verdade conhecimento, parar de reproduzir conteúdo aos alunos que passivamente o recebem. Conhecimento se produz na interação entre professor e aluno, de forma a empower os alunos como cidadãos críticos e ativos, do contrário, se está silenciando e marginalizando os alunos.
     Outra crítica importante que a educação libertadora e transformadora faz é em relação ao currículo, que se constroi nos moldes que sempre acabam favorecendo um determinado grupo situado nas relações de poder. É por isso que deve ser examinado criticamente a fim de desenvolver condições pedagógicas nas suas salas de aula que permitam que as diversas vozes dos alunos sejam ouvidas e legitimadas. Outro ponto importante do currículo é que ele deve valorizar as experiências dos alunos e usá-la como ponto de partida para os problemas e necessidades dos próprios alunos, estimulando-os a afirmar, contar e recontar suas narrativas pessoais pelo exercício de suas próprias vozes. Isso é empowerment, tanto de alunos, como de professores.
     Nenhuma atividade educativa é destituída de intencionalidade e, por isso, está sempre agregada ao modelo de homem e sociedade a que se quer servir ou transformar. Tanto mais se percebe essa intencionalidade quando se refere à alfabetização e mais ainda a alfabetização de jovens e adultos.
    Os dados do IBGE apontam que o Brasil ainda tem 7,8% de sua população maior de 15 anos sem ser alfabetizada. Isso equivale a aproximadamente 16 milhões de pessoas que não sabem ler ou escrever um bilhete. E quando os dados referentes aos que concluíram o 4° ano, a população com baixa escolaridade passa para 33 milhões de pessoas. O que mais preocupa diante dos dados é que, embora a maior parte da população analfabeta esteja na população acima de 60 anos, o que se deve a fatores históricos de dificuldade de acesso à escola, na população entre 15 e 29 anos a taxa ainda beira os 7%. E muitos desses jovens passaram pela escola, (mesmo que por pouco tempo e dela saíram sem se apropriar da aprendizagem que é a mais importante no contexto escolar.
    Dentro desse contexto, que não difere muito daquele em que Paulo Freire construiu suas concepções de alfabetização e educação, Henry Geraix no texto “Alfabetização como prática cultural” estabelece algumas reflexões sobre as ideias que cercam os processos de alfabetização.  O autor estabelece as características de uma alfabetização funcional e aquela que esse denomina alfabetização crítica.
     A alfabetização funcional é aquela que atende ao mercado de trabalho e de consumo pois está “destinada a iniciar os pobres, os desprivilegiados e as minorias na lógica de uma tradição cultural unitária e dominante”. Isto é, através da alfabetização o sujeito terá acesso aos conhecimentos “socialmente” aceitos em detrimento aqueles próprios de seu ambiente “iletrado”. Dentro dessa concepção de alfabetização, o analfabetismo está, além de não saber ler e escrever, “é também um indicador cultural para nomear formas de diferença dentro da lógica da teoria da privação cultural”.Na alfabetização crítica, ao contrário, deve-se buscar a “leitura da palavra do mundo” não apenas para a compreensão da realidade em que o sujeito vive e as relações que nela se estabelecem, mas também para, se apropriando de sua história, (re) construir essa realidade.
    Nessa concepção de educação, educação educando se comprometem com a aprendizagem, já que a relação não se dá entre quem sabe e quem não sabe, mas entre aqueles que possuem saberes diferentes. Se estabelece então aquilo que Paulo Freire considera condição essencial, para a prática educativa: a relação dialoga entre os sujeitos e entre esses e o conhecimento. Conhecimento, esse, que deve levar à compreensão da realidade e não aqueles ditos saberes cultos desvinculados do mundo real e da vida do sujeito. Entende-se então que a alfabetização não tem como objetivo a emancipação do sujeito, ela deve levar os sujeitos a se engajarem na luta pela construção de possibilidades de vida e liberdade para todos. “Ser alfabetizado não é ser livre; é estar presente e ativo na luta pela reivindicação da própria voz, da própria voz, da própria história”. Para o autor, dentro da perspectiva da alfabetização crítica o analfabetização é compreendido muito além da incapacidade funcional de ler e escrever, analfabeto compreende também a incapacidade de ler o mundo, as relações de poder e exploração que nele se estabelecem e o papel que desempenham nessas relações.
    Exemplificando: Muitos de nós somos capazes de identificar a violência como um grave problema social, especialmente nos centros urbanos. E apontamos como causas a “desestruturação familiar” a drogadição, a pobreza, a falta de valores. Mas temos dificuldade em nos dar conta que nossa intenção de impor aqueles “valores” que consideramos certo, o nosso modelo de estrutura familiar e de padrão de vida, também estamos sendo violentos. Toda relação em que os saberes de um grupo se sobrepõe ao outro é uma relação de violência.
     Voltando a questão da alfabetização ação crítica, também a relação e construção do currículo deve priorizar práticas pedagógicas nas quais a compreensão da vida de cada um reafirme e aprofunde a necessidade de “os professores e os alunos recuperarem suas próprias vozes de modo que possam tornar a contar e criticar a história que lhes contam em comparação com o que viveram”.

 Fonte:
https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/2388540/assignsubmission_file/submission_files/1909902/Trabalho%20Eja%202.docx?forcedownload=1
 https://moodle.ufrgs.br/mod/url/view.php?id=1466123
https://moodle.ufrgs.br/mod/url/view.php?id=1466124



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