No artigo Maquinaria escolar Varela cita: “A universidade e a pretendida eternidade da escola são
pouco mais do que ilusão” e nos leva a perceber que a escola é não é algo que
sempre existiu, mas é uma construção histórica e inquestionável. A escola como
um lugar sociável e de passagem obrigatória para as crianças é uma condição
recente.
Conforme
pensamento dos autores são cinco instâncias fundamentais para o aparecimento da
escola nacional; a definição de um estatuto da infância; a emergência em se ter
um espaço específico destinado a educação de crianças; o aparecimento de um
corpo de especialistas da infância dotados de tecnologias específicas e de
elaborados códigos teóricos; a destruição de outros modos de educação e a
instituição propriamente dita da escola. Philippe Ariès, citado pelos
autores no texto, afirma que a infância tal como hoje a percebemos, começa-se a
configurar fundamentalmente a partir do século XVI e explica o estatuto de
infância, relacionando a constituição da infância com as classes sociais, com a
emergência da família moderna, e com uma série de práticas educativas,
concluindo assim que como a constituição da infância de qualidade aparece
estreitamente vinculada à família, praticamente desde seus começos, a da
infância necessitada foi em seus princípios o resultado de um programa de
intervenção direta do governo, criando as assim as escolas comuns em seu
funcionamento sendo um espaço que serve como maquinaria de transformação da
juventude, um lugar que muda conforme a qualidade da natureza dos educandos e
reformandos que definem as disciplinas, flexibilizam os espaços, enfim, definem
o destino dos estudantes, não levando em conta a necessidade da diferença de
conteúdos e atividades, mas, também, pela dureza do enclausuramento, o rigor
dos castigos, o submetimento às ordens, etc.
Sobre o aparecimento de um corpo de
especialistas da infância dotados de tecnologias específicas e de
"elaborados" códigos teóricos, os autores acreditam que são nos
colégios que se ensaiarão as formas concretas de transmissão de conhecimentos e
de modelação de comportamentos que ao longo de pelo menos dois séculos suporão
a aquisição de todo um acúmulo de saberes codificados resultando assim no
aparecimento da pedagogia e de seus especialistas que são modelo de mestre,
onde além de possuir conhecimentos, só ele tem as chaves de uma correta
interpretação da infância assim como do programa que os alunos teriam de seguir
para adquirir os comportamentos e os princípios que correspondem à sua
idade. Os novos especialistas recebem
agora uma formação controlada pelo Estado e ministrada em instituições
especiais, as Escolas Normais. O objetivo primordial é que desempenhem funções
de acordo com a nova sociedade em vias de industrialização, em que a posição do
professor, as características institucionais da escola obrigatória, os
interesses do Estado, os métodos e técnicas de transmissão do saber e o próprio
saber escolar contribuam para modelar um novo tipo de indivíduo,
desclassificado em parte, dividido, individualizado.
As autores também falam da
destruição de outros modos de educação, da destruição e desvalorização de
formas de vida diferentes e relativamente autônomas com o aparecimento dos
colégios de jesuítas inaugurando uma nova forma de socialização que rompe a
relação existente entre aprendizagem e formação, e onde o saber é propriedade
pessoal do professor, enfim, o colégio converte-se num lugar no qual se ensina
e se aprende um amontoado de banalidades que nada tem haver com a prática. Ele
não diz qual delas é a mais viável, apenas apresenta as suas formas.
Para finalizar nos falam da
institucionalização propriamente dita da escola, tratam-na como um dispositivo
que têm por finalidade educar ao menino trabalhador a obedecer, inculcar-lhe a
virtude da obediência e a submissão à autoridade e à cultura legitima
inculcar-lhes que o tempo é ouro e o trabalho disciplina e que para serem
homens e mulheres de princípios e proveito, têm de renunciar a seus hábitos de
classe, etc. Os autores concordam que as quatro questões anteriormente tratadas
reorganizam-se, consolidam-se e adquirem novas dimensões com a
institucionalização da escola O professor, ao se sentir superior às massas
ignorantes, não admitirá sua forma de vida educativa, resultando assim, na
incapacidade de se produzir em conseqüência uma relação de igualdade, de
entendimento e reforço entre família e escola.
Os autores tendem a todo o
momento dizer que a educação é uma luta política e de dominação, onde as
classes mais ricas tendem a impor uma dominação disfarçada aos trabalhadores,
dominando eles desde a infância, através da escola, que tinha como objetivo a
transformação das crianças em futuros trabalhadores assentando-se numa desculpa
velada de um pretendido direito: o direito de todos à educação.
Referência:
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMxZ0X1bu-sbnFgLBgrsPKlb0kSUrhRGUfLuU0Umdlkn0evFXIMOpd2lvYLqdDWwl5JbDMSi1tI7CtIcu2KGtiYbBMY_EwU4CeTxBb_n-9L5Na90pvEcy4q-ioTHwVoK3B_E4GMsWfOg0/s320/la+maquinaria+escolar.jpg